Monday, June 24, 2013

Caminho longo ou doce ilusão?

Não é novidade para ninguém (rs) que sou militante estudantil desde o Colégio. Muitas vezes cortei a minha própria carne para tentar legitimar direitos de pessoas que precisavam.
Foquei parte do meu conhecimento na crítica a judicialização de direitos e ativismo judicial.
Quando criança vivenciei a luta de minha mãe contra o câncer de mama e constatei: sem o plano de saúde ela teria ido (morrido) bem mais cedo.
Fato é que desde então quis fazer o máximo possível para ajudar as pessoas conseguirem o que elas tinham de direito.
Entretanto, sou humana, e chegou uma hora que cansei.
Não pelas pessoas, mas pelos acontecimentos.
Sim, desde 2011 parei de militar, parei com tudo.
Eu acreditava, sinceramente, que as pessoas que se mobilizavam para os protestos eram poucas. Fazíamos pouco barulho, até academicamente falando.
O que adiantava 5-4 gatos pingados escrevendo, gritando, ajuizando ações e sem conseguir exito?? Aquilo era doentio. Sofríamos com a impossibilidade de ajudar.
Sem falar que atingia diretamente meus objetivos, levei 2 bombas bancas de mestrado - já na fase oral - porque acreditavam que meu posicionamento crítico acerca da judicialização era, apenas, uma crítica sem força.
"Você acha que escrever sobre isso vai fazer alguma mudança no futuro". Disse uma pessoa na banca do Mestrado.

(desabafo.)rs

Pois bem, até onde vamos? Até onde devemos ir para conseguir a famosa legitimação de direitos?
No final do ano passado, 2012, resolvi, então, mudar meu objetivo.
Acreditem, comecei a estudar fontes renováveis e fazer contatos com alguns Professores de Engenharia Elétrica para tentar escrever algo sobre a legislação, com foco em direito comparado, para uso de energia nuclear (barata, leve e de alto potencial energético)...
Após seis meses lendo diversos artigos, jogando fora todos os esboços possíveis..eis que me deparo com a convocação virtual para manifestação do Passe Livre (em São Paulo).
Justamente na semana quebrei meu pé - quinto meta alguma coisa - e não posso, sequer, pisar no chão.
Foi um sinal (rs).
Sinceramente, no momento pensei "quantas vezes recebi convites como esse...".
Me surpreendi.
Fiquei impressionada com os acontecimentos.
E pensei. "Inacreditável".
Milhares de brasileiros foram as ruas: brancos, pretos,amarelos, pardos, católicos, protestantes, héteros, gays, idosos, jovens, crianças...
A luta pela redução da passagem passou a ser a luta por qualquer tipo de manifestação.
Não vou entrar em detalhes das manifestações, pretendo apenas resumir meu sentimento.
Não acredito que o povo acordou, acredito que o povo perdeu o medo.
Todo mundo já estava indignado, revoltado mas só pequenos grupos iam para as ruas.
E aí, aquele meu sentimento de largar tudo, abandonar tudo...acabou.
Fiquei muito feliz de saber que não estava "sozinha".
Observar as manifestações, já que não podia sair de casa, me trouxe um sentimento de nostalgia e de felicidade.
Aquela menina que desde 16 anos manifestava contra a corrupção,contra a privatização da saúde, educação gratuita para todos, contra a necessidade de judicialização dos direitos fundamentais sociais, transbordou de alegria e renasceu.
Luto, principalmente, pela eficiência dos direitos.
Luto pela saúde pública completa e gratuita.
Luto pela disponibilização de moradias para aqueles que vivem em condições mínimas de sobrevivência.
Luto pela dignidade da pessoa humana.
É só olhar para o lado e você verá pelo menos uma pessoa que precisa da eficiência dos serviços públicos.
Um exemplo é o SUS.
Grande parcela da população, inclusive com a qual convivo diariamente, sequer possui condições de pagar o plano de saúde.
Como pode uma pessoa que ganha 622 reais pagar uma fatura mensal de 959,63 reais de plano de saúde??
No mundo real não existe essa possibilidade, existe SUS.
O SUS - que tanto estudei para escrever minha monografia e meu artigo sobre a possibilidade do MS para fins de concessão de medicamentos - é bom, sim.
O problema do SUS é que funciona bem para algumas coisas e funciona extremamente mal para outras.
Questões relativas a diagnósticos e exames de alta complexidade são muito difíceis para se conseguir no SUS.
Aliás, tudo novo é difícil no SUS.
Então, me digam, como legitimar o direito à saúde - universal e indisponível - de uma pessoa que precisa de um medicamento que não está na lista do SUS?
Pela Judicialização. Um absurdo.


O que quero dizer é simples. Nossos direitos fundamentais estão claros na Constituição da República desde 1988.
Estamos em 2013 e milhares de pessoas moram e morrem nas ruas/não possuem acesso digno a saude (meu teclado está sem crase)/não possuem transporte digno/ educação de qualidade dentre outros direitos.

Nossos direitos estão postos mas não eficientemente legitimados.

O caminho é longo, sim.
Mas não é ilusão, nem utópico.


Depende apenas de foco, orientação e voz. Vamos nos ORGANIZAR e mostrar para o mundo que o Brasil não e o país do futebol, mas sim o país da dignidade.

E isso não tem nada ligado ao V de Vingança #ficaadica

Foto:noticias.uol

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